quinta-feira, 22 de março de 2007

Mr Laurent Garnier solta o verbo em entrevista pra Folha de São Paulo !


Laurent Garnier se declara um dinossauro e afirma que nada de novo está sendo feito na dance music e no rock hoje.
Confira alguns trechos dessa picante entrevista...

FOLHA - Você não gosta dessas misturas que estão fazendo hoje na dance music?
LAURENT GARNIER - Em mais de 20 anos de dance music, muita gente vem misturando diferentes estilos. Música indiana com dance, world music com dance. Isso existe há tempos. Mas essas fusões são rasteiras, porque quem faz isso normalmente não pertence a nenhum desses estilos. Quando eu toco drum'n'bass, não misturo com batidas de tecno. Gosto do d'n'b pelo que ele é. A mesma coisa com hip hop, dub, reggae.
O problemas com muitas dessas bandas de rock é que elas não têm bagagem. Outro dia, vi uma reportagem sobre new rave, como chamam na Inglaterra. Nenhuma dessas bandas me agrada, não conhecem a história. E não estão fazendo nada novo. Ninguém venha me dizer que é novo porque o New Order fazia isso há 20 anos, e fazia naturalmente.
Nos anos 80, quando a house music surgiu, e aquilo foi uma verdadeira revolução, você nem precisava tanto ter uma bagagem, porque ali a história estava sendo feita. A house foi algo realmente novo. Usaram a tecnologia de uma maneira inovadora, os vocais eram usados como um instrumento, como uma máquina. Hoje, quando uma banda mistura rock com dance music, dois estilos que têm uma história extensa, me desculpe, mas você tem obrigação de saber como tudo começou.

FOLHA - Além do electro-rock, a dance music vem sendo tomada pelo estilo minimalista...
GARNIER - Hoje há duas ditaduras na dance music: a do electro-rock e a do tecno minimal. No tecno minimal, algumas coisas são brilhantes, mas 85% é tremendamente chato, vazio, um lixo. E ouvir isso por uma noite inteira é um pesadelo. Infelizmente, 80% dos clubes do mundo só tocam esses tipos de música. Porque está na moda.

FOLHA - Os novos softwares podem trazer algo de novo à música?
GARNIER - Na década de 90, tínhamos artistas que eram verdadeiros gênios, como Aphex Twin, por exemplo. Hoje, os verdadeiros gênios são os cientistas que desenvolvem novos equipamentos e softwares. Os gênios não estão fazendo música, estão criando máquinas. O resultado disso é a música minimal. Porque o dance-rock está atrás apenas de energia.

A Folha ouviu alguns especialistas para discutir o assunto, e suas opiniões apontam para outras direções.
Para Philip Sherburne, jornalista norte-americano que escreve para publicações como o site Pitchfork (www.pitchforkmedia.com), a música eletrônica, especialmente o tecno minimal, vem sendo abastecida por idéias novas e interessantes.
"O minimalismo não representa um desenvolvimento radicalmente novo na dance music, mas encontramos várias coisas excitantes e interessantes sendo produzidas."
"Alguns, como Ricardo Villalobos, por exemplo, fazem músicas realmente inovadoras. Por muitos anos, a eletrônica foi um gênero futurista. Suas batidas não nos eram familiares e cada pequena mudança parecia uma revolução. Hoje estamos lidando com o passado, assimilando o que foi feito nesses anos todos, descobrindo clássicos perdidos, redefinindo técnicas de produção de música (mesmo com o constante desenvolvimento de softwares e hardwares)", diz Sherburne.
Já Vivian Host, editora da revista "XLR8R", publicação norte-americana dedicada à nova música, diz que "agora que muitos artistas de diferentes estilos (hip hop, punk, indie rock) estão expostos à eletrônica, eles estão adicionando essas influências em suas músicas".
Para ela, "a dance music não parece tão novidadeira quanto era antes para algumas pessoas que estão nessa há anos, mas isso era esperado, pois a dance music tornou-se um cânone tanto quanto o rock ou o jazz."
A música eletrônica virou um gênero já estabelecido, em que tudo parece ter sido feito, mas "isso depende de como você define uma "novidade" e que tipo de descobertas e inovações você está procurando na música", afirma Sherburne. "Eu não acredito que haja nenhuma falta de criatividade ou de idéia na dance music feita hoje."

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